Ruy Flaks Schneider, O Globo
‘Sou corrupto, mas, meu produto é bom”! “Em nossas práticas a corrupção sempre predominou, porém, veja a excelência de nossos serviços!”
Se tais afirmações alguma vez foram feitas, agora, certamente, já não o serão. Risco envolvendo a reputação tornou-se fator decisivo na escolha com quem celebrar negócios, assinar acordos e parcerias, ouvir palestras e consultar pareceres.
Quando se tratava apenas da revista inglesa e suas capas beirando o sarcasmo, incomodava, mas os danos eram limitados. Ainda que imprudente, podia-se desconsiderar. Porém, de forma surpreendentemente rápida, a deterioração da imagem do Brasil tornou-se irrefutável, evidenciada pelos contundentes comentários nos principais veículos da imprensa mundial, pelos seminários internacionais sobre corrupção, nos quais o Brasil passou a ser protagonista, discussão de casos em escolas de negócios e a fria acolhida a palestrantes brasileiros em encontros internacionais acerca de temas que nada têm a ver com política ou economia.
Imagem e reputação são indissociáveis. Mesmo divergindo da realidade de qualidades e defeitos, exaltando aqueles e poupando estes, tais desvios não resistem à marcha do tempo e à ação de agentes determinados.
Construir uma imagem sólida e reputação respeitável é extenuante, mas fácil de destruir, bastando a convergência de má-fé com incompetência, sem muito esforço.
São ativos difíceis de se traduzir em números, porém imprescindíveis a profissionais, empresas e países. É a imagem que desperta o interesse, prólogo da aceitação, e acidentes de imagem comprometem a aceitação mesmo sem que se conheçam falhas de desempenho.
Não surpreende, portanto, o zelo com que países cuidam de suas respectivas imagens e aquilatam o reflexo em seus produtos, serviços e profissionais. O culto à precisão suíça, a eficiência germânica, o design francês e a tradição de educação italiana, para citar apenas alguns, são atributos respeitados e preservados que revestem seus produtos nacionais para além de preço e desempenho. Imagem é valor e, como tal, há que ser considerada.
Custou-nos muito consolidar a imagem do Made in Brazil e a reputação de parceiro confiável, aquele cuja presença honra qualquer associação e legitima decisões de investimentos.
Não faltaram questionamentos — vários, infelizmente, procedentes —, porém eram casos isolados e assim percebidos. Fatos que o Brasil reconhecia, pelo menos em parte, mas que não abdicava de enfrentar.
E, sobretudo, não havia risco envolvendo a reputação. Não eram partes de uma política de governo e de consolidação de poder.
Hoje convivemos com realidade totalmente diferente. Quem entre nós, executivos, empresários, professores, cientistas, desportistas e, inclusive, turistas, não tem se defrontado com manifestações que vão da galhofa ao insulto? Quantos de nós não fomos alvo da indignação de investidores surpresos e frustrados? “Risco de mercado eu estava preparado para correr; desvio comportamental institucionalizado, jamais !”
“Como vocês permitiram que isto ocorresse?” — ou seja, tomando-nos a todos como cúmplices.
Imagem e reputação de um país constituem patrimônio de todos que nele vivem e trabalham.
Escapa à compreensão, portanto, como há aqueles entre nós que não se indignam nem se sentem afrontados pela marcante e inquestionável deterioração de imagem e reputação com que fomos agredidos.
Porém, ainda que difícil, há condições de recuperação. Imagem e reputação podem ser restauradas.
Há que sermos, contudo, corajosamente indignados, sem timidez na cobrança por ações que repudiem interesses mesquinhos e barganhas vis. A mensagem aos nossos congressistas, guardiões eleitos de nossa imagem e reputação, hoje tão vilipendiadas, é clara: resgatem-nas.
Ruy Flaks Schneider é consultor internacional
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