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terça-feira, 24 de novembro de 2015

Opinião: por uma república de verdade

Fernando Araújo

Os atentados terroristas da sexta-feira 13 em Paris tiraram de pauta, ao que parece, o aniversário da República Brasileira cuja data de nascimento se deu dois dias depois. Sequer se pode apreciar um noticiário oficial educativo para informar às novas gerações do que se trata. O país anda ausente e descuidado de sua história.

Pelo menos as crianças deveriam aprender que República vem de uma expressão latina “res publica” e significa “coisa pública”. Algo bem diferente do regime monárquico em que vivíamos até 14 de novembro de 1989. Os muito jovem precisam começar a saber que numa República o que prevalece é o interesse público, não a opinião ou a vontade de um homem ou grupos. E é por isso que se fala em “postura republicana” de uma autoridade ou agente público. Será que a nossa baixa estima em face do descaso ético é tamanha, que temos vergonha de comemorar a efeméride? O fato é que precisamos seguir em frente e ajudar a colocar a lei e o direito acima de tudo e de todos, como vetor do sistema republicano.

A história é a história e não devemos negá-la, mesmo quando ela não nos orgulha o bastante. É pedagógico, para a mudança, que ela seja contada como foi, sem falsetas. Não a devemos contar com glórias inexistentes, sob pena de cairmos num pirronismo extremo, ou numa credulidade ridícula, para lembrar Voltaire, onde “os fatos principais podem ser verdadeiros, e os detalhes, mentirosos”.

Desde sua proclamação, até hoje, nessas cinco fases, ainda não conseguimos viver numa autêntica República: República Velha (1889-1930); Era Vargas (1930-1945); República Populista (1945-1964); Ditadura Militar (1964-1985) e Nova República (1985 até os dias atuais). Segundo Vladmir Safatle, no pós-ditadura, portanto a partir de 1985, tivemos a oportunidade de dar início a uma efetiva Nova República, mas os líderes da resistência vitoriosa optaram por um modelo cuja governabilidade foi montada através da cooptação de parte de uma classe política que se desenvolveu na própria ditadura.

Hoje, todavia, há em cada um de nós um desejo de recomeçar para fazer melhor. Como de certa feita disse D. Pedro Casaldáliga, reconstruir do início mesmo, onde haja “uma Eucaristia – bastante diferente daquela primeira em Porto Seguro, que comece por um sincero ato penitencial, que prossiga num ofertório fraterno de tudo o que é e tem esta plural Terra de Santa Cruz e culmine numa comunhão pluriétnica e pluricultural, e ecumênica e macroecumênica, do sangue e o pranto, das lutas e os sonhos, do passado, presente e futuro do nosso povo…”. A metáfora é desafiadora!

Fernando Araújo – Advogado e Doutor em Direito

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